Authors
Chico Moura, Wilma Moura
Category
Writing
Format
Paperback
Language
Brazilian Portuguese
Pages
208
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Review

Este livro me chamou a atenção quando li “escrever bem”, em amarelo, em sua capa minimalista e atraente. Escrever bem é e continua sendo um desafio para mim, desde os e-mails rotineiros às resenhas de livros. Que posso fazer para escrever bem? Melhor: é possível escrever bem para alguém não talentoso?

A introdução do livro diz que sim:

Qualquer pessoa interessada é capaz de produzir bons textos, desde que conheça os princípios básicos de escrita e certos aspectos relacionados ao estilo. Ou seja, a produção de bons textos não depende de nenhuma dádiva especial.

A obra foca nos elementos de estilo que ajudam na elaboração de textos no geral: organização, clareza, precisão, concisão, coerência e coesão.

O livro é sucinto e a progressão dos capítulos ajuda o leitor a entender a correlação dos elementos de estilo. No entanto, também é possível ler capítulos e seções em qualquer ordem, usando-o como um guia de estilo. O capítulo 4, sobre procedimentos a se evitar e as seções sobre o uso da vírgula no capítulo 6 são bons exemplos disso.

“Tirando de letra” estará sempre ao alcance das minhas mãos e, espero, fazer bom uso dele para escrever textos claros e elegantes.

Some quotes

Nada é totalmente neutro em termos de língua. As palavras que você usa, o modo como constrói as frases e as organiza num texto, a consistência e a precisão de suas afirmações, o que você diz ou deixa de dizer e até o que está por trás do que foi dito revelam muito sobre você. E podem aproximá-lo ou afastá-lo do leitor.


O linguista Steven Pinker, em seu Guia de escrita, chama os saltos de informação de “maldição do conhecimento”, citando como exemplo os manuais de uso de produtos eletrônicos, que provavelmente são muito claros para os engenheiros que os produziram, mas, para os leigos, são obscuros e incompreensíveis.


O início de um texto — assim como o fim — chama mais a atenção do leitor que o desenvolvimento. Começar um texto é uma tarefa difícil. As ideias demoram a engrenar e tomar a forma desejada. Assim, é comum que, no momento da criação do texto, escreva-se muita coisa que pode (e deve) ser desbastada, tarefa a ser feita no momento da revisão e da reescrita (…).


Tanto na prosa quanto na poesia, as palavras que vêm por último carregam mais peso. Na poesia, não é por acaso que as rimas geralmente ocorrem no final de cada verso. Na prosa, uma das funções do ponto-final é enfatizar a palavra que o precede. Naturalmente, o final das frases é mais forte. Tire partido disso para escrever com ênfase. Reserve essa posição para as palavras mais importantes.


No dizer do gramático Evanildo Bechara, “o falante deve ser poliglota em sua própria língua”. Isso significa ser capaz de ajustar sua linguagem — falada ou escrita — ao contexto que ela está sendo produzida.

Para cada situação comunicativa há um nível de linguagem adequado, que vai do mais informal ao mais formal. Por se tratar de um material que tem por objetivo informar o leitor a respeito da escrita, neste livro a linguagem utilizada tende para a formal, seguindo as regras da gramática normativa. Porém, no dia a dia, escrevemos textos bem mais informais, mais livres e nem por isso menos adequados.


Não ser igual a alguma coisa é ser diferente dela. Não ser simpático significa, de fato, ser antipático. Afirmar que algo não é fácil é escamotear a verdade, pois de trata de algo difícil.

Para obter uma escrita enfática, vigorosa, um bom caminho é só utilizar a palavra “não” quando se quer de fato negar alguma coisa (“não gosto disso”, “não vou fazer aquilo”) ou criar uma antítese (“gosto disso, não daquilo”, “faça isto, mas não aquilo”).


É falso o entendimento de que para escrever bem é preciso utilizar palavras “difíceis”. É a velha história de turvar as águas do lago para que ele pareça mais fundo. A simplicidade e a clareza são valores a perseguir na escrita, e esses valores são opostos à pompa e circunstância.


(…) Se você utilizar o advérbio “geralmente” em quase tudo que afirma, suas afirmações perdem a força e sua argumentação fica debilitada. Trata-se de uma estratégia — de persuasão ou de autodefesa antecipada, para não se comprometer — que deve ser utilizada com cuidado.

Para saber se é ou não o caso de omitir um qualificador (adjetivo) ou intensificador (advérbio), tente escrever a frase sem ele e verifique se alguma coisa importante se perdeu.


Seja fiel à língua na qual você está escrevendo. Se existe uma palavra ou expressão correspondente em português, não há por que utilizar um termo estrangeiro. Não se trata de demonizar o que vem de fora, mas de aproveitar a riqueza da própria língua. Claro que, se for necessário, não há nenhum problema em utilizar palavras estrangeiras quando são de uso corrente e compreendidas por um grande número de pessoas.


A simetria na construção das frases é o que chamamos de paralelismo. Não se pode dizer que a falta de paralelismo seja um erro, mas não há dúvida de que seu emprego pode contribuir para a coerência e o ritmo do texto.

Se você escreve “não só”, deve dar continuidade à frase com “mas também” ou “como também”.


Uma das maneiras de manter a coerência é seguir o fluxo natural, que pode ser do geral para o específico, do menos recente ao mais recente, do mais simples ao mais complexo, do mais curto ao mais longo, do menos importante ao mais importante. Ou vice-versa para todas essas situações, é claro.


O ponto-final cria pausa; pausa cria ênfase. Prefira períodos curtos. Se você só escreve períodos longos, não dá condições para que o leitor acompanhe o encadeamento entre as ideias. Quando quem escreve não divide adequadamente as ideias em diferentes períodos, cria problemas para quem lê, dificultando a interpretação.


À semelhança do ponto-final, também os dois-pontos indicam uma pausa grande. Mas enquanto o ponto-final remete para algo que já foi dito, encerra uma ideia, os dois-pontos preparam o leitor para a ideia que vem depois. Sugerem antecipação.


O uso sem critério do ponto de exclamação compromete sua finalidade. Escritores experientes, em geral, procuram outras maneiras de demonstrar entusiasmo, valendo-se de mudanças na estrutura das frases ou de palavras que já encerram esse estado de espírito.


“A reescrita é a essência do escrever bem.” “Não é a escrita que vence o jogo, mas a reescrita.” Essas são as afirmações de William Zinsser com as quais concordamos inteiramente.