Author
Antonio Carlos Olivieri
Category
History
Format
Kindle
Language
Brazilian Portuguese
Pages
37
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Review

Escrito num estilo jornalístico, “Lampião e o Cangaço”, explica o contexto histórico do cangaço e a ascenção do principal líder cangaceiro: Lampião.

Apesar de jornalístico (e por vezes, aparentemente acadêmico), o texto consegue dar ares de aventura às histórias do banditismo de Lampião. Não que tenha sido a intenção do autor, mas é que as histórias são, de fato, incríveis.

Um exemplo fantástico está na recepção dada a Lampião e seu bando quando foram à Juazeiro do Norte para se encontrar com o Padre Cícero. Recebido pela população, Lampião deu autógrafo para um jornalista que o entrevistou!

No entanto, como o livro é muito curto, a história é apresentada de forma muito resumida. A leitura vale como uma curiosidade, devendo o leitor buscar uma obra com pesquisa histórica mais ampla e exploração mais aprofundada do cangaço.

Some quotes

Para garantir a alimentação, nas regiões sertanejas mais férteis, como as várzeas dos rios e à beira dos açudes, desenvolveram-se roças de feijão, milho, mandioca e batata-doce, junto com pequenas criações. Os lavradores e criadores usavam a terra de um grande proprietário, pagando-lhe com parte da produção uma espécie de aluguel. Assim, os pobres mantinham com os ricos proprietários de terra um relacionamento quase servil, de grande dependência.


Em princípios do século XX, alguns desses antigos bandos ainda prestavam serviço aos coronéis, mantendo, porém, em relação a eles, uma posição independente. Quer dizer, não serviam permanentemente a este ou àquele coronel: serviam ora a um ora a outro, além de agir muitas vezes por conta própria, sem obedecer às ordens de ninguém. Para sobreviver, quando não estavam a serviço de algum coronel, atacavam as populações indefesas dos arraiais, das vilas e das pequenas cidades, roubando, saqueando e extorquindo dinheiro mediante ameaças.


Esses bandidos independentes, os antigos jagunços, receberam o nome de cangaceiros. A palavra se origina de canga, o conjunto de arreios que amarram o boi ao carro. É provável que esse nome tenha surgido porque os bandoleiros usavam as espingardas a tiracolo ou com a correias cruzadas no peito, lembrando a canga do boi.


Desde cedo, o menino ajudou a sustentar a família, como era o costume do sertão. Antônio, o irmão mais velho, cuidava das plantações. Levino, o segundo, ajudava o pai a fazer transportes de carga, aumentando a renda do grupo. Virgulino se ocupava do pastoreio. Segundo consta, aos 12 anos tornou-se vaqueiro hábil, como tantos meninos do sertão, entre os quais os outros seis irmãos que veio a ter. Cuidava também de consertar e fabricar artefatos de couro: cabrestos, arreios, selas e toda a vestimenta de vaqueiro nordestino.


Virgulino levava vida de refugiado, fora-da-lei e, com um grupo de homens, tinha decidido se vingar das afrontas à família, atacando localidades onde se encontravam seus inimigos. Nessa época, ele já era conhecido como Lampião. Conta-se que, num tiroteio noturno contra a polícia, ele deu tantos tiros seguidos que o cano de sua espingarda iluminou a noite, como se fosse a luz de um lampião. Daí lhe veio o apelido.


No início de 1926, para escapar à perseguição feroz das polícias da Paraíba e de Pernambuco, Lampião refugiou-se com seu bando no Ceará. Nesse mesmo tempo, a Coluna Prestes (ver texto no fim deste capítulo) atravessava o Nordeste. Encarregado de defender a região e combater os revolucionários, o deputado Floro Bartolomeu resolveu procurar o cangaceiro para incluí-lo entre seus soldados.


Para isso, o deputado contou com o apoio de alguém que Lampião – um homem religioso como a maioria dos sertanejos – admirava profundamente, como de resto quase toda a população do Nordeste: o padre Cícero Romão Batista, vigário de Juazeiro do Norte (Ceará). Passado algum tempo, Lampião recebeu uma carta do famoso padre, convidando-o para um encontro em Juazeiro. A entrada do cangaceiro na cidade, com 49 comandados, foi um acontecimento festivo. A multidão acorria para vê-lo de perto. Lampião chegou a dar autógrafo a um repórter que o entrevistou.


Na colina de Macambira, no sul do Ceará, próximo à vila de Aurora, chegou a combater quatrocentos soldados com pouco mais de quarenta homens. Surpreendentemente, saiu vencedor.


A morte de Corisco praticamente coincide com o fim do cangaço. O desaparecimento de lideranças como Lampião e o próprio Corisco, antes que outras estivessem prontas para entrar em ação, é um dos fatores que explicam o fim desse tipo de banditismo.


Esse tipo de banditismo surgiu da própria história da sociedade nordestina. É descendente dos jagunços e dos capangas dos grandes fazendeiros e está diretamente ligado à tradição de coronelismo, disputa pela posse da terra, vingança por questões de honra e família. Relaciona-se ainda com o próprio isolamento do sertão nordestino em relação ao restante do país.