Author
Anthony Burgess
Category
Novel
Format
Kindle
Language
Brazilian Portuguese
Pages
224
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Review

Confesso que demorei para saber que pensar de Laranja Mecânica. Eu esperava uma distopia futurista, com maior construção do mundo e fui surpreendido com uma narrativa focada (e narrada) no protagonista, Alex.

Adolescente e violento, Alex dedica a sua vida a roubos e espancamentos arbitrários (na maioria das vezes à mulheres e senhores de idade) com sua gangue. E é através de Alex que descobrimos poucos detalhes desse mundo alienado, onde as pessoas consomem moloko (em bares) misturado com substâncias psicoativas.

Com o uso de um linguajar próprio, o nadsat (uma mistura de russo com inglês), a narração de Alex confunde o leitor. Com o tempo, é possível identificar o significado das palavras por causa do contexto. Isso ajuda, de certa forma, a tornar a experiência de entendimento desse novo mundo como algo distante, já que pouco dele é descrito.

Alex é preso após cometer um crime e de ter sido abondonado por sua gangue. Na prisão, ele é submetido a um tratamento que reprime seus instintos violentos. E é então onde finalmente a questão central da história aparece: o livre-arbítrio. Sem poder praticar atos de violência, Alex se vê incompleto como indivíduo.

Por mais interessante que seja a história e a sensação de estranheza causada pelo nadsat, não senti a descrição das cenas de violência como algo crível. Talvez o fato de toda a narração de Alex ser voltada para o performático, como se o mesmo fosse um artista da violência, junto com a falta de construção do mundo tornem a experiência menos visceral.

Enfim, o que deixa a obra sólida e interessante, para mim, é a narrativa de Alex. Ele expõe uma subcultura exótica e violenta de forma envolvente. É irresistível ler Laranja Mecânica de capa a capa em uma única tarde. Méritos de um clássico.

Some quotes

Colocamos nossas mascaretas. Coisa nova, horrorshow mesmo, um trabalho muito bem-feito; eram os rostos de personalidades históricas (eles diziam para você o nome quando você comprava). Eu tinha Disraeli, Pete tinha Elvis Presley, Georgie tinha Henrique VIII e o coitado do bom e velho Tosko tinha um vek poeta chamado P. B. Shelley; eram um disfarce de verdade, com cabelo e tudo, e eram feitas de uma veshka plástica muito especial que dava para enrolar e esconder na bota quando você acabasse de usar.


Eu queria tipo assim um grande banquete de música antes de carimbar meu passaporte, meus irmãos, na fronteira do sono, e levantarem a shesta listrada para me deixar passar.


Então, irmãos, aconteceu. Ah, êxtase! Êxtase e paraíso. Fiquei deitado inteiramente nagoi virado para o teto, minha gúliver sobre as rukas no travesseiro, glazis fechados, rot aberta em êxtase, sluchando o suco de sons adoráveis. Ah, era lindo, a beleza encarnada. Os trombones esmagavam vermelho-dourados sob minha cama, e atrás da minha gúliver os trumpetes prata queimavam triplicemente, e perto da porta os tímpanos rolavam pelas minhas tripas e saíam de novo esmagados como trovões feitos de doces. Ah, era a maravilha das maravilhas. E, então, um pássaro feito do mais raro heavenmetal, ou tipo assim vinho prateado fluindo numa espaçonave – a gravidade agora não fazia o menor sentido – veio o solo de violino acima de todas as outras cordas, e essas cordas eram como uma gaiola de seda ao redor da minha cama. Então a flauta e o oboé perfuraram, como vermes de platina, o caramelo espesso, espesso, de ouro e prata. Eu estava em completo êxtase, meus irmãos.


Eu faria tudo odinoki. Eu performaria a velha ultraviolência na ptitsa starre e nos bichanos dela se preciso fosse, e depois pegaria grandes rukadas do que parecia mesmo umas coisas muito poleznis e iria valsando até a porta da frente e a abriria fazendo chover ouro e prata sobre meus druguis esperando. Eles precisavam aprender tudo sobre liderança.


Bondade é algo que se escolhe. Quando um homem não pode escolher, ele deixa de ser um homem.


Agora o que eu quero que você saiba é que esta cela havia sido projetada para apenas três quando foi construída, mas éramos seis ali, todos espremidos, suados e apertados. E esse era o estado de todas as celas em todas as prisões naqueles dias, irmãos, e era uma desgraça grande e suja, porque não havia espaço suficiente para um tchelovek esticar os membros.


Bem, essas novas ideias ridículas finalmente chegaram e ordens são ordens, embora cá entre nós eu lhe diga que não aprovo. Não aprovo isso de jeito nenhum. Olho por olho, é o que eu digo. Se alguém bate em você, você revida, certo? Então por que o Estado, já severamente espancado por vocês, vândalos brutais, por que ele não revida? Mas a nova visão diz que não.


Ser bom pode ser horrível. E quando digo isso a você, percebo o quão autocontraditório isso soa. Eu sei que perderei muitas noites de sono por causa disso. O que Deus quer? Será que Deus quer insensibilidade ou a escolha da bondade? Será que um homem que escolhe o mal é talvez melhor do que um homem que teve o bem imposto a si?


Mas a intenção essencial é o verdadeiro pecado. Um homem que não pode escolher deixa de ser um homem.


A tradição da liberdade significa tudo. As pessoas comuns deixarão isso passar, ah, sim. Elas venderão a liberdade por uma vida mais tranquila.