Author
Alexandre Dumas
Category
History
Format
Kindle
Language
Brazilian Portuguese
Pages
240
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Review

Alexandre Dumas entrega pequenos tesouros ao longo desta curta biografia, como discussões entre Napoleão e seus comandados além de pequenas curiosidades do mesmo. No entanto, as descrições das campanhas Napoleônicas são extensas e monótonas para quem não está habituado com o linguajar das movimentações militares. As batalhas são detalhadas à exaustão, com ênfase nas movimentações das tropas, no número de soldados envolvidos, nos nomes dos generais e dos espólios conquistados.

Caso esteja curioso em saber mais sobre a pessoa histórica de Napoleão e também sua influência na Europa e no mundo, recomendo a leitura de uma biografia escrita por um historiador (a de Vincent Cronin é uma bem avaliada). Dumas pouco contextualiza as mudanças que estavam ocorrendo no mundo antes, durante e depois de Napoleão. As novas fronteiras da Europa, a introdução do código civil e do direito penal, as guerras de independência nas Américas, a adoção do sistema métrico e outros avanços da época (influenciados ou não por Napoleão) não estão presentes na obra.

A leitura vale para ter o entendimento do envolvimento de Napoleão nas batalhas: sua visão estratégica e sua grande capacidade de liderança tem poucos paralelos na história. Para quem sabe um pouco mais do be-a-bá militar, este livro é um prato cheio.

Some quotes

O recém-chegado era corso, isto é, de um país que ainda em nossos dias luta contra a civilização com uma força de inércia tal que, privado de independência, conseguiu preservar seu caráter. Falava apenas o idioma de sua ilha materna e tinha a pele queimada pelo sol meridional, os olhos escuros e penetrantes do montanhês. Era mais que o necessário para despertar a curiosidade dos colegas e aumentar sua selvageria natural, pois a curiosidade da infância é zombeteira e impiedosa.


Certo dia em que passeava com ela pelos arredores da garganta de Tende, ocorreu ao jovem general proporcionar à sua bela companheira o espetáculo de uma pequena guerra, e ordenou um ataque da linha de frente. Doze homens foram vítimas desse divertimento, e Napoleão confessou mais de uma vez em Santa Helena que aqueles homens, mortos sem motivo e por puro capricho, representavam para ele um remorso maior que a morte dos 600 mil soldados por ele semeados nas estepes nevadas da Rússia.


Ficara dois anos ausente e, nesse período, tinha feito cento e cinquenta mil prisioneiros, tomado cento e setenta bandeiras, cento e cinquenta peças de canhão, seiscentas peças de campanha, cinco equipagens de ponte, nove embarcações de setenta e quatro canhões, doze fragatas de trinta e dois, doze corvetas e dezoito galeras; além disso, como dissemos, tendo levado da França dois mil luíses, enviara em várias remessas perto de cinquenta milhões. Contra todas as tradições antigas e modernas, fora o exército a alimentar a pátria.


Eram três da tarde. Dos dezenove mil homens que tinham iniciado a batalha às cinco da manhã, restavam apenas, num raio de quilômetros, oito mil homens de infantaria, mil cavalos e seis peças de canhão em estado de uso. Um quarto do exército achava-se fora de combate, e outro quarto, na falta de veículos, estava ocupada em transportar os feridos, que Bonaparte dera ordens para não serem abandonados.


O Império contava então com centro e trinta departamentos, estendendo-se do oceano bretão aos mares da Grécia, do Tejo até o Elba. Cento e vinte milhões de homens, obedecendo a uma única vontade, submetidos a um poder único e conduzidos numa mesma direção, gritavam “Viva Napoleão!” em oito línguas diferentes.


Em 14 de setembro, o exército entrou em Moscou. Tudo seria sombrio nessa guerra, inclusive os triunfos. Nossos soldados estavam habituados a entrar em capitais, não em necrópoles. Moscou parecia um imenso túmulo, por toda parte deserta e silenciosa. Napoleão estabeleceu-se no Kremlin, e o exército se espalhou pela cidade. Em seguida, anoiteceu.


O caldo era a alimentação mais comum. Ora, eis em que ele consistia. Como era impossível arranjar água, porque o gelo cobria todas as fontes e todos os charcos, derretia-se numa panela uma quantidade considerável de neve para produzir o volume de água necessário. Em seguida diluía-se nessa água, que era escura e lamacenta, uma porção disponível de farinha mais ou menos espessa e engrossava-se essa mistura até a consistência do caldo. Depois, temperava-se com sal ou, na sua falta, jogavam-se dois ou três cartuchos que, ao lhe imprimir sabor de pólvora, tirava-lhe a extrema insipidez, colorindo-o com uma tinta escura que lembrava bastante o “caldo preto” dos espartanos.


Todos esses presságios não escaparam a Napoleão, que sentiu, apesar de seus esforços, que a França lhe fugia das mãos. Sem esperanças de conservar seu trono, queria pelo menos conseguir um túmulo, e, em Arcis-sur-Aube e Saint-Dizier, fizera tudo, embora em vão, o que podia para se deixar matar — ele tinha um pacto com os projéteis e as balas.


Às três horas, Vandamme chegava. Um algarismo garatujado fora a causa de seu atraso: tomara um quatro por um seis. Foi o primeiro punido por seu erro, pois não combateu.


Aquele que escreve estas linhas viu Napoleão apenas duas vezes na vida, com oito dias de intervalo, e isso durante o breve momento de uma escala de viagem. A primeira, quando ele se dirigia para Ligny, a segunda, quando voltava de Waterloo; a primeira vez, à luz do sol, a segunda, à luz de uma lamparina; a primeira, aclamado por uma multidão, a segunda, sob o silêncio de toda uma população.


Em 7 de agosto, apesar desse protesto, Napoleão foi forçado a se transferir do Bellérophon para bordo do Northumberland. Embora a ordem ministerial mandasse retirar sua espada, o almirante Keith sentiu-se envergonhado por tal determinação e não a executou.


Quanto à Inglaterra, aceitou em todo o seu alcance a vergonha de sua traição, e, a contar de 16 de outubro de 1815, os reis tiveram seu Cristo, e os povos, seu Judas.


O imperador tomava banho todos os dias. Disseram-lhe para se contentar com um banho por semana, pois a água era escassa em Longwood. Ali havia algumas árvores sob as quais às vezes ele ia andar e que davam a única sombra disponível dentro dos limites delineados para seus passeios. O governador mandou derrubá-las e, como o imperador queixara-se da crueldade, ele respondeu que ignorava que aquelas árvores fossem agradáveis ao “general Buonaparte”, mas que, já que lamentava, “plantariam outras”.


Morro prematuramente, assassinado pela oligarquia inglesa e seu sicário; o povo inglês não tardará a me vingar.